[1]Cerislei
de Faria Pinheiro
Resumo
Palavras chaves: Virtudes, Autismo, Inclusão
Introdução
O autismo é um Transtorno comportamental de
etiologia variada, sendo caracterizado por déficits de interação social,
visualizado pela inabilidade na relação com o outro, usualmente combinado com deficits de linguagem e alterações de comportamento. Pode ocorrer em qualquer
classe social, raça ou cultura. As dificuldades na interação social podem
manifestar-se como isolamento ou comportamento social impróprio; pobre contato
visual; dificuldade em participar de atividades em grupo; indiferença afetiva
ou demonstrações inapropriadas de afeto; falta de empatia social ou emocional.
Camargo e Bosa (2009) afirmam que existem poucas crianças autistas incluídas,
se comparadas àquelas com outras deficiências. Isso ocorre devido à falta de
preparo das escolas e professores para atender à demanda da inclusão.
A inclusão é um preparo para a vida em
comunidade, dando oportunidade às crianças autistas de conviver com crianças
que não possuem a síndrome e vice-versa, consiste na ideia de que todos os cidadãos devem ter o direito
de ter acesso ao sistema de ensino, sem segregação e discriminação, seja
por causa do gênero, religião, etnia, classe social, condições físicas e
psicológicas, etc.
A prática das virtudes é pouco entendida em
nossa sociedade atualmente, por esta razão esquecida em nosso cotidiano, falar
deste tema não é inovar, inventar moda, mas uma forma de resgatar ações que se
perderam com a vida moderna. Então, a virtude é uma maneira de ser. Quando
adquirida, pode a vir ser duradoura, algo belo e verdadeiro, pois é a própria
essência humana. “São nossos valores morais, não aqueles que apenas admiramos,
mas o que vivemos em ato”. Para [2]Comte-Sponville (1998) Virtudes são todos os
hábitos que levam o homem para o bem, como indivíduo social ou espiritual,
virtude de vir, homem, a potência racional que inclina o homem para o bem. A
teoria de Aristóteles inspira pesquisas na área da moralidade e para este, a
moral é entendida como busca da felicidade e que esta é impossível sem o
exercício das virtudes.
Este é, portanto, um artigo voltado à prática
das virtudes, que espera proporcionar aos professores, leitores, uma reflexão
sobre a postura pedagógica educacional e uma visão de como navegar nas rotas
dos mares educacionais orientados por uma bússola que aponta, entre outros, os
seguintes pontos cardeais: Polidez, Prudência, Generosidade, Perseverança.
No processo de inclusão,
a instituição e os professores demandam tanta atenção quanto o aluno (CAMARGO;
BOSA, 2009). Na inclusão é o sistema educacional e social que deve adaptar-se
para receber a criança. A Educação inclusiva é caracterizada como uma política
social que se refere a alunos com necessidades educacionais especiais,
tomando-se o conceito mais amplo, que é o da Declaração de Salamanca, UNESCO
(2003, p.17-18): O princípio fundamental desta linha de ação é de que as
escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições,
físicas, intelectuais, emocionais, linguística e outras. Devem acolher crianças
com deficiência ou bem dotadas, crianças que vivem nas ruas e que trabalham,
crianças de populações distantes ou nômades, crianças de minorias linguísticas
étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou
marginalizadas.
Para Stainback & Stainback (1999,
p.21) “O ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos – independentemente
de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural – em
escolas e salas de aula provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são
satisfeitas”. Há a necessidade de orientar os professores, tornando-os
capacitados a identificar corretamente as necessidades de seus alunos com
autismo. Pesquisas mostram que esses profissionais demonstram um certo receio
principalmente com relação a agressividade das crianças autistas, o que deixa
muito clara a falta de conhecimento sobre o tema, uma vez que a agressividade
não é um comportamento necessariamente característico.
Apesar de ainda não existir uma
metodologia formal exclusiva para a alfabetização de crianças com transtornos
globais do desenvolvimento, muitas delas podem aprender a ler e a escrever. O
processo de ensino, porém, leva tempo e o resultado é variável, de acordo com o
perfil neuropsicológico da criança (MERCADANTE; ROSÁRIO, 2009). 7 Ideias e
conceitos não condizentes com a realidade sobre o autismo, principalmente a
partir da mídia, influenciam as expectativas do professor sobre o desempenho de
seus alunos, afetando seu modo de agir de forma eficaz (CAMARGO; BOSA, 2009).
Quando não há ambiente apropriado e condições adequadas à inclusão, a
possibilidade de ganhos no desenvolvimento concede lugar ao prejuízo para todas
as crianças. Diante de uma inclusão adequada, mesmo com a criança apresentando
deficiências cognitivas importantes e dificuldades em relação aos conteúdo do
currículo da educação comum, ela pode ser beneficiada com as experiências
sociais. O papel do professor é fundamental. É preciso planejar uma estratégia
educacional que minimize as dificuldades da criança de forma que ela possa se
integrar e desenvolver de acordo com as possibilidades. Segundo Camargo e Bosa
(2009), a noção de uma criança não-comunicativa, isolada e incapaz de mostrar
afeto não corresponde às observações atualmente realizadas. As habilidades
sociais são passíveis de serem adquiridas pelas trocas que acontecem no
processo de aprendizagem social. Crianças com desenvolvimento típico fornecem
modelos de interação para as crianças com autismo. A oportunidade de interação
com pares é a base para o seu desenvolvimento, logo, a convivência
compartilhada da criança com autismo na escola dá oportunidade aos contatos
sociais, fazendo com que as outras crianças aprendam com as diferenças.
As dificuldades
encontradas ao trabalhar com crianças autistas nas escolas, de acordo com as
falas dos professores são: dificuldades de comunicação-interação; agressividade
do aluno, estereotipias, rituais, medo, insegurança, dúvidas quanto à prática
pedagógica e à identificação de um aluno com autismo; relacionamento com
familiares e falta de equipe de apoio e recursos técnicos. No que se refere às
questões educacionais evidenciam-se, nas últimas duas décadas, preocupações
quanto à função do professor na promoção do desenvolvimento de habilidades nas
crianças com autismo (GOLDENBERG, 2002).
No caso de professores de alunos autistas, o
que se percebe é uma tendência a focalizar os comprometimentos da criança em
detrimento das habilidades que ela possui ou possa desenvolver. Há uma visão
distorcida da síndrome, baseada em crenças pré-concebidas, que influencia as
expectativas do professor sobre o desempenho de seus alunos, o que por sua vez,
afeta a eficácia de suas ações quanto à promoção de habilidades.
É fundamental para o
professor entender o perfil individual do comportamento de cada criança e
adotar expectativas realistas sobre seu desenvolvimento. Crenças e confusões
por parte dos professores estendem-se desde a etiologia até as expectativas no
processo de aprendizagem. Para grande parte do conhecimento sobre autismo
faz-se com base no comprometimento e não sobre as suas potencialidades, criando
um espaço propício para o surgimento de ideias rotuladas acerca desses
indivíduos. Considerações Finais Os estudos deixaram clara a necessidade de
realizar mais pesquisas relacionadas ao tema autismo e inclusão. Ainda é grande
a falta e preparo dos professores e da população em geral para lidar com essas
crianças.
É a qualidade do
relacionamento professor-aluno que torna o processo educativo e a escola
significativos para o educando. É preciso que os professores sejam capacitados
para atender à crescente população de crianças com autismo. Infelizmente ainda
é grande o número de pessoas que enxergam esses indivíduos de forma errônea e
acabam não realizando a inclusão da melhor forma possível a esses alunos. Mas
em todas as pesquisas estudadas, ficou clara a importância da inclusão dessas
crianças em escolas regulares para promover experiências de socialização
atividades diárias, tornando-as o mais independente possível e isto torna-se
mais fácil com uma prática voltada as virtudes.
1.
Polidez.
Se
você for educado e simpático, as pessoas ficam dóceis e obedientes. Assim, a
polidez faz com a natureza humana o mesmo que o calor faz com a cera.
Polidez é a boa educação, é dizer: Bom dia! Boa tarde! Boa Noite!
Obrigado! Por favor! É algo, no entanto, em que a virtude se inicia, e da
maneira que temos de praticá-la
“Imitando
virtude”, escreve André Comte-Sponville,
“tornamo-nos
virtuosos. (…) A polidez antecede a moral e a torna possível. (…) Nós devemos
primeiro adquirir a “aparência e maneira de bom “, não porque eles são
suficientes em si, mas porque eles podem nos ajudar a atingir a única coisa que
eles imitam – a virtude -., e que é adquirido apenas por essa imitação”
De acordo com este filósofo francês,
a polidez, diz ele, é necessária para que cada um se inicie na ética.
Nas virtudes. De algum lugar, na infância, é preciso começar. E a maneira como
ele explica é genial.
Uma criança, não consegue simplesmente distinguir as coisas por
critérios morais. O que é moralmente certo do que é moralmente errado. Só deixa
de fazer o que machuca aos outros (do que machuca a ela mesma o instinto dá
conta) quando um adulto diz para não fazer. “É feio” e ponto.
A criança aprende pela regra imposta, sem entender por que faz aquilo.
Não faz porque mandaram não fazer. Aceita a aparência da virtude, sem ser
virtuosa ainda. Faz o movimento externo, sem ter aquilo ainda em si.
É essa a virtude da polidez. De nos levar a fazer, pelo menos enquanto
não estamos prontos para fazer por escolha, a coisa certa. E de tanto repetir
aquela escolha, nos adaptamos a ela. E o que era mecânico, depois do hábito e
da reflexão, já mais tarde, vira virtude.
O respeito sincero pelos direitos alheios, tanto nos assuntos pequenos
como naqueles de maior importância, a gentileza legítima, o bom gosto e o
autocontrole. Tais coisas jamais sairão de moda.
Ela não é de forma suficiente para ser educado, mas é um começo.
Aprendemos a ser bons para os outros antes de saber por que isso é necessário:
nós praticamos até termos que fazê-lo como um estilo de vida.
Algumas pessoas possuem um “instinto cortês” tão forte que mal
precisam de cultivá-lo, mas a grande maioria deve se contentar em se
desenvolver através do estudo e da prática. Cabe a nós adquirir, em primeira
instância, um senso de igualdade e benevolência, bons sentimentos,
magnanimidade e autocontrole.
Na prática pedagógica com autistas é preciso ensinar pelo exemplo, no
mundo autista não funciona o “faz o que eu mando, mas não faz o que eu faço”, o
problema primário, que caracteriza o pensamento de indivíduos portadores de
autismo, é a inabilidade de dar sentido às suas experiências. Eles atuam em
seus ambientes, podem aprender habilidades, alguns podem aprender a usar a
linguagem, mas não têm capacidade intrínseca de entender o significado de suas
atividades.
Eles não estabelecem relações entre ideias e eventos. Seu mundo é
consistido por uma série de experiências e demandas sem relação umas com as
outras. Os temas, conceitos, razões ou princípios subjacentes são, para eles,
tipicamente obscuros. Este sério prejuízo na geração de sentido está,
provavelmente, relacionado a várias outras dificuldades na construção do
pensamento. Eles apresentam habilidade limitada em priorizar a relevância
destes detalhes, Alunos com autismo são, com muita frequência, muito bons na
observação de detalhes minúsculos, especialmente os visuais. Se o professor manter
uma postura polida de boa educação ele o imitará, o contrário também acontece.
Um determinado aluno autista depois de observar sua professora falar
aos seus alunos para calarem a boca, ele começou a falar para seus colegas ou
qualquer outra pessoa para calar a boa, ele aprendeu com o exemplo.
Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas
quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou
inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos alunos. Por
exemplo, as crianças autistas não compreendem como se estabelecem as relações
de amizade. Algumas não têm amigos, enquanto outras pensam que todos em sua
sala de aula são seus amigos.
Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais
intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para escola alguns problemas
de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e, extrinsecamente,
podem apresentar as consequências emocionais de suas vivências sociais e
familiares.
Por isso uma Prática Pedagógica voltada para os bons costumes o levará
a uma socialização saudável, para haver este ambiente favorável, se faz
necessário o cumprimento desta boa educação na sala de aula, tanto pelos alunos
como pelos professores, pois os bons modos mostram, ao próximo o respeito que
lhe é dirigido, pois um dos objetivos da educação é o de formação ética e a
Educação Moral é um antídoto ao comportamento violento da sociedade.
Generosidade
“É
belo dar quando solicitado; é mais belo, porém dar por haver apenas
compreendido”.
Khalil
Gibran
Qual é o lugar do homem?
Onde os seus irmãos precisarem dele; dizia Madre Tereza de Calcutá, mas às
vezes esta mulher de coração entregue ao semelhante, ia mais longe: “Não quero
que deis da vossa fartura: quero que deis até doer”.
Ser
generoso nessas condições pode parecer ironia nesta época de violência na qual
vivemos. O Brasil ocupa a [3]10.ª posição no ranking dos cem países que
mais matam por armas de fogo, conforme dados da OMS (Organização Mundial de
Saúde) divulgados em 2014.
A posse de armas de fogo é fator
determinante para a ocorrência da maior parte da violência registrada no País.
João Guimarães descreve bem esse
pensamento, “Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os
homens”? A generosidade trata de dar algo que faltará
de alguma forma, para quem está dando, e se prende à subjetividade,
singularidade, afetividade e espontaneidade.
Ser indivíduo generoso é agir não em conformidade com a lei, com
alguma indicação estruturada e pré-determinada, mas para além disso.
Entregar-se sem esperar nada em troca. Este é o perfil do professor generoso,
mostrar-se sempre pronto a ajudar e atender seu aluno, doando o seu tempo,
tanto em sala de aula como fora dela, buscando sempre fazer o melhor. O
professor generoso ensina com prazer e importa realmente com as necessidades de
seus alunos, não fazendo por obrigação, mas por encanto, ele deixa de fazer
algo importante pra si mesmo e investe seu tempo em seu aluno, fazendo com
satisfação.
A generosidade não é uma virtude da obrigação ou do dever, mas da
voluntariedade e do prazer, sua bondade é espontânea, sem fingimento, faz em
qualquer lugar e aprecia verdadeiramente os outros, presta ajuda necessária sem
retribuição, neste caso, me refiro ao das maiores queixas dos professores, “não
receber formação para atender os alunos com autismo”, não existe uma receita
pronta, mas existe a vontade de se doar ao aprender e fazer a diferença.
Ser um professor generoso é de suma importância. Muitos problemas do
cotidiano colocam as pessoas completamente envolvidas consigo e dando pouca
atenção a quem as rodeia, desta forma a prática de uma virtude como a
generosidade colabora nesta saudável convivência entre os indivíduos.
Queremos nesta oportunidade, mostrar uma frase de Cury que nos atende:
“Não podemos esquecer que, nós devemos dar nossa parcela de contribuição para
gerar uma humanidade mais saudável” (CURY, 2003, p. 65).
Para sermos generosos e saímos de nosso egoísmo, precisamos, antes de
tudo, perseverar em nos conhecermos o melhor possível. A generosidade, segundo
Comte-Sponville (1998), se baseia num autoconhecimento, nos liberta
inteiramente, nos faz senhores de nossas paixões.
“Que nossa finalidade maior seja formar indivíduos para o bem. E, como
bem, podemos compreender indivíduos felizes, cooperativos, capazes de atender
as suas necessidades e ajudar nas de outrem”. (LIMA, 2000, p. 60)
Ter uma Prática Pedagógica com generosidade é ir além de seus
conteúdos programáticos é usar um pouco do seu precioso tempo para atender as
dificuldades de seu aluno que não conseguiu terminar a atividade, é olhar nos
olhos de seu aluno e entender qual é a sua real necessidade, é conversar com
seu aluno e perguntar como foi seu dia, se está tudo bem, sempre há o que
fazer, observe, preste atenção, não se prenda apenas a teoria, entregue-se as
necessidades reais de seus alunos e eles receberão uma educação impactante
demonstrado na sua generosidade.
Certa vez um aluno autista do 9º ano de uma determinada escola
estadual fez suas necessidades fisiológicas na roupa, a professora que atendia
este aluno negou ajuda-lo a se limpar, ele precisou ser levado a uma segunda
pessoa para ajuda-lo o que foi negado novamente, nesta movimentação o aluno
estava em crise, sujo, com vergonha do ocorrido pois muitas autistas tendem a
apresentar altos níveis de ansiedade; eles estão frequentemente frustrados ou a
ponto de ficarem frustrados. Uma dose desta ansiedade é provavelmente devido a
fatores biológicos. Além disto, a ansiedade pode ser resultado das constantes
confrontações com o ambiente, que é imprevisível e opressivo. Por causa de seus
déficits cognitivos, as pessoas com autismo têm dificuldade em entender o que é
esperado deles e o que está acontecendo ao seu redor; a ansiedade e a agitação
são reações compreensíveis diante deste constante grau de incerteza., houve
muito constrangimento, uma outra professora fora do contexto de atendimento
ofereceu para ajudar.
Um professor movido pela generosidade vai além do estabelecido na sua
prática cotidiana, a generosidade não está no falar, mas na ação, no fazer o
além do que se espera dele. A Prática Pedagógica necessita de professores
generosos para tornar a inclusão dos autistas na sala de aula regular.
Prudência
"À
hora de consertar o telhado é quando o sol está brilhando.”
--
John F. Kennedy
Se a polidez é o
princípio para um desenvolvimento moral, a prudência é a condição para esta
realização, já que prudência significa uma virtude que consiste em prever e
evitar faltas e perigos; cautela; precaução; moderação. (RIOS, 2002). Entretanto,
tais aptidões instintivas para o bem, precisam ser efetivadas e desenvolvidas
para que a realização do homem se dê. É então no agir prudente que o homem se
faz, na medida em que as ações que pratica sejam condizentes com sua condição
de abertura para a totalidade do real.
A prudência aparece,
deste modo, enquanto razão prática e sabedoria concernente às coisas humanas. É
a partir dessa virtude que o homem pode aplicar o conhecimento da realidade à
realização do bem. Ela orienta o homem para o ser, para a perfeição, através da
ilimitada variedade que constitui o mundo. A prudência só é uma virtude quando a serviço de um fim estimável. [...] Não é possível ser homem de bem sem prudência, nem prudente sem virtude moral. A prudência não basta à virtude A prudência aconselha, a moral comanda. Portanto precisamos de uma e de outra, solidariamente. (COMTE-SPONVILLE, 1998, p.42)
Prudência, uma virtude
que consiste em prever e evitar faltas e perigos; cautela; precaução;
moderação. (RIOS, 2002)
Entretanto, tais
competências para o bem, precisam ser efetivadas e desenvolvidas para que a
realização do homem se dê. É então no agir prudente que o homem se faz, na
medida em que as ações que pratica sejam condizentes com sua condição de
abertura para a totalidade do real.
A prudência aparece deste
modo, enquanto razão prática e sabedoria concernente às coisas humanas. É a
partir dessa virtude que o homem pode aplicar o conhecimento da realidade à
realização do bem. Ela orienta o homem para o ser, para o agir certo, através
da ilimitada variedade de ideias e influências que constitui o mundo.
Segundo Comte-Sponville a prudência é
uma virtude quando a serviço de um fim estimável [...] pg. 42, para este autor
não é possível ser um homem de bem sem prudência, nem prudente sem ética moral,
neste caso precisamos de uma e de outra solidariamente.
As demais virtudes
necessitam da prudência, já que a realização do bem, em qualquer aspecto ou
situação, só é possível com a realidade e verdade das coisas, discernida pela
prudência.
Não adianta, por exemplo,
ser generoso com um aluno dando-lhe dez na média final, sabendo que este aluno
não conseguiu produzir as atividades propostas. Mesmo que as intenções tenham
sido boa, sua ação não condiz com a realidade das coisas, portanto, não atinge
o objetivo proposto de fazer o bem, embora o sujeito tenha tido a vontade de
fazer o bem, não foi orientado em sua ação pelo conhecimento da realidade,
faltou prudência no seu ato de caridade, porque o aluno não conseguiu realizar
a atividade? A atividade não foi devidamente adaptada para seu nível de
entendimento? Neste sentido, é por meio da prudência que o homem atinge seu
autocontrole, fazer o bem sim, mas condizente com a realidade.
Ser prudente é também não
agir precipitadamente. Para
decidir corretamente, devemos enxergar a verdade prudentemente, trata-se,
portanto, antes de tudo, de uma capacidade intelectual de ver o real, mas não
de um real teórico, e sim do concreto, saber discernir no aqui e agora o que
vai ser útil para meu aluno autista, o que é necessário que ele realmente
aprenda do currículo que irá ser útil no seu dia a dia e para isso precisamos
de uma visão de águia.
Um exemplo: se determinado aluno
autista não consegue acompanhar os demais colegas de sala de aula, qual deve
ser a atitude do professor em relação a este caso? Primeiramente talvez
possamos pensar que, o professor irá agir de maneira a ignorar a situação, bem,
se não agir de maneira prudente, talvez seja esta a resposta.
Porém, se for um professor que busca a
causa do real, estuda as possibilidades e venha intervir com precisão, então
podemos considerar que este professor agiu prudentemente, pois o professor
prudente é capaz de valorizar a cultura da criança e, a partir da associação
dessa cultura e da cultura letrada, promover uma construção do conhecimento,
nisso se encontra a proposta construtivista, da valorização dos conhecimentos
existentes.
O Homem prudente é capaz de agir se
valendo da justiça, a qual é uma das virtudes constantemente chamadas à tona
nas relações pedagógicas, pois essa se compõe de carência, de necessidade e de
conflito, e a sua ausência ou presença é desencadeadora de uma didática da
formação moral ou amoral , na qual o aprendiz há de se espelhar.
O homem prudente é atento, não apenas
ao que acontece, mas ao que pode acontecer; é atento, e presta atenção.
Dessa maneira, o educador precisa ter
essa virtude prudente como norteadora de suas decisões, é preciso que ele
sempre associe as decisões tomadas a partir de uma análise segura do concreto
digamos, por exemplo no caso de conflito, ninguém pode tomar uma decisão justa
se não conhece a realidade: como as coisas são e em que pé estão.
A realização do bem concreto pressupõe
sempre o conhecimento da realidade, isso pode se exprimir também através do
agir humano, que é bom e ordenado quando procede da verdade, que afinal de
contas nada mais é que o vir a encarar a realidade. E a escola que busca a
visão de uma educação inclusiva, transformadora, deve partir do conhecimento da
realidade de seus alunos, acreditando que a educação é uma forma de intervenção
no mundo, o que exige um comprometimento com o ensinar.
Precisamente este é o sentido da
Prudência e de sua posição privilegiada, que tanto quanto possível vejamos a
realidade, que nós vejamos como realmente são os elementos que compõem a
situação que exige de nós uma decisão. Assim, já podemos começar a vislumbrar a
importância das virtudes nas relações de ensino.
Assim, a construção de uma ação,
educativa que busca suas diretrizes na Prudência são importantíssimas, pois nos
permite estar atento, não apenas ao que acontece, mas ao que pode acontecer.
Dessa maneira, fica imprescindível que o professor na sua prática pedagógica
tenha essa virtude como norteadora de suas decisões, firmando a realidade de
suas decisões entre o útil e o desnecessário.
Perseverança
"Uma pequena fé levará tua alma ao céu; uma grande fé trará o céu
para sua alma." (Charles Spurgeon)
O conceito de
Perseverança no dicionário é ter firmeza ou constância num sentimento, numa
resolução, num trabalho, apesar das dificuldades e dos incômodos, é insistir,
permitir que nossos sonhos durem, persistem. Logo, esta virtude é que contribui
para o êxito na vida humana, pois, ela permite ao indivíduo progredir, ter
sucesso em suas iniciativas, a presença desta virtude capacita o ser humano a
concluir sempre todas as tarefas a que se programou.
A perseverança é a amiga
aliada para a superação de todos os desafios, sendo necessária para assimilar
as demais virtudes e para livrar-se de todas as negatividades. Mas porque é tão
difícil ser perseverante? Porque desistimos quando precisamos continuar? Há
pelo menos três fatores que se destacam como obstáculos à perseverança: O medo,
a falta de confiança e o desânimo.
A perseverança é indispensável a
todos, pois é no dia a dia que construímos o que somos, portanto, a manutenção
persistente daquilo que almejamos é fundamental, a constância permite um
resultado melhor.
A
perseverança permite ao indivíduo progredir, ter sucesso em os seus
empreendimentos, pois não tolera preguiça, desalento, falta de ânimo. Não
importam as circunstâncias ou obstáculos, a presença desta virtude capacita o
ser humano a concluir sempre todas as tarefas a que se programou.
Sócrates, que se
comparava a uma mosca para os atenienses, declarou com absoluta seriedade em
seu julgamento (segundo a apologia de Platão), “Enquanto eu respirar não
pararei de praticar a filosofia, de exortá-los a meu modo e de apontar a
qualquer um que eu encontre: és um ateniense, um cidadão da maior cidade, com
melhor reputação de sabedoria e de poder; não te envergonhas do teu interesse
em possuir tanta reputação, tantas riquezas e honras e não cuidar da sabedoria
e da verdade, do melhor estado possível do teu espírito?” (BENNETT, 1995, p.
345)
Sócrates foi persistente,
porém condenado, mas sua morte não foi suficiente para calar suas idéias,
“enquanto ele foi meramente condenado à morte, seus acusadores, pelo mesmo ato,
foram condenados ao mal” (BENNETT, 1995, p. 345). A perseverança compreende,
assim, a continuidade nos esforços feitos na mesma linha, sem o qual o
empreendimento humano está fadado à esterilidade. Quando observamos que muitos
planos não se concretizam é porque o poder de realização não correspondeu à
faculdade de concepção.
Por essa razão a
perseverança é virtude de poucos, pois seu valor aparece nas horas mais
difíceis: quando enfrentamos tribulações ou sofremos injustiças. Quando tudo
vai bem, é fácil continuar firme, ficamos felizes, o sol parece estar mais
forte e as flores mais coloridas. Quando meu aluno é produtivo, tira boas notas
é fácil a prática educativa, mas quando se trata de acolher aquele aluno que
tem dificuldade em algum ponto da aprendizagem, necessita-se de uma postura
perseverante, não desistir, procurar o melhor método e meio de ensino para que
ele venha ter um bom desenvolvimento nos seus estudos.
Assim, a perseverança é
uma grande aliada para a superação de todos os desafios, pois caminhar sem
destino é como realizar um passeio por simples entretenimento, este é bom mas a
responsabilidade nos cobra, logo, ser perseverante é imprescindível para
assimilar as demais virtudes e para livrar-se de todas as negatividades.
A perseverança na
educação se enquadra mediante as dificuldades cotidianas de se educar, vê-se a
necessidade de agir com maior rigor, utilizando-se de um planejamento a ser
compreendido e discutido entre todos aqueles que convivem com as crianças. É
importante criar um método que ajude no processo educacional. Não obstante,
agir organizadamente traz mais harmonia, além de gerar a gostosa sensação de se
estar cumprindo a vital missão: educar o ser humano para uma vida mais plena.
As possibilidades
favoráveis são ilimitadas para aqueles que despertam com nova esperança em seus
corações, estas encontrarão forças para fazerem a diferença, por acreditarem
que o homem é mais do que um animal sobre a terra. “Willian Faulkner (1897 –
1962) fez um discurso pequeno e espetacular, na noite de 10 de dezembro de
1950, em Estocolmo, na Suécia, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura”
(BENNETT, 1995, p. 380)
No processo educacional,
alguns pontos chaves se destacam, pois eles determinam o grau de êxito em cada
caso que são: sacrifício, acordo, objetivos, conhecimentos, perseverança. e
generosidade. É no dia a dia é que se constrói a educação, portanto, a sua
manutenção persistente é fundamental, a constância permite um resultado bem
melhor.
Vale lembrar a questão humana
presente na vida familiar o quanto se está envolvido com os filhos e as
influências causadas em virtude de comportamentos, tolera-se ou não certos
comportamentos infantis de acordo com algumas experiências passadas dos pais,
tais como o choro, dificuldades etc.
Quando as crianças chegam na sala de
aula, não é muito diferente, pois seus professores se enquadram no perfil de
seus pais. Mas professores perseverantes não desistem nunca e sempre lutam para
alcançar os ideais do dia a dia da sala de aula.
Em Freire (2002) educar é
construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo, reconhecendo
que a História é um tempo de possibilidades. É um ensinar certo como quem fala
com a força do testemunho. É um ato comunicante, coparticipado, de modo algum
produto de uma mente burocratizada.
No entanto, toda curiosidade de saber
exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio discurso teórico
terá de ser aliado a sua aplicação prática. Por outro lado, Freire insiste na
especificidade humana do ensino, enquanto competência profissional e
generosidade pessoal, sem autoritarismo e arrogância.
Consequentemente, não se
poderá separar “prática de teoria, autoridade de liberdade, ignorância de
saber, respeito ao professor de respeito aos alunos, ensinar de aprender” (FREIRE,
2002, p.106-107).
Um educador que deseja
ser perseverante no que acredita não se limita ao desafio da inclusão, não se
limita as dificuldades do suporte oferecido a inclusão, ele não estaciona-se ao
desconhecido, ele enfrenta, pesquisa e cria oportunidades para que seu aluno
com Transtorno do Espectro Autista evolua, socialize-se e supere suas
dificuldades.
O estudo objetivou realizar uma observação das práticas
pedagógicas, na inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista, podemos
concretizar a importância do professor nesse processo, não apenas como portador
do conhecimento teórico e técnicas de Ensino, mas como pessoa virtuosa que tem
na sua rotina de sala de aula a boa educação, que dê ao seu aluno autista a
oportunidade de aprender através de sua atitude a importância de tratar bem o
outro, com palavras gentis e ações que moldam o seu caráter.
Professores generosos que valorizam o seu tempo de
aprendizagem, a importância do seu crescimento na socialização, que doam o seu
tempo para oportunizar a integração de seu aluno na íntegra.
Professores Prudentes que sabem da importância do seu aluno e
os levam a uma ampliação dos seus saberes, adaptando quando necessário suas
atividades, cumprindo o currículo escolar com aquilo que realmente é útil para
o dia a dia do aluno e sobretudo entenda que eles estão ali para crescer e não
apenas para passar um tempo. E sobretudo professores que mesmo com as
dificuldades enfrentadas são perseverantes, não desistem em meio as
dificuldades.
Ser este professor é possível e isto nos torna pessoas
melhores tanto na Prática Pedagógica como em nosso relacionamento diário.